CLASSE, GÊNERO E RAÇA
Trocando olhares sobre a representação de trabalhadoras negras em produções literárias de Elisa Lucinda, Conceição Evaristo e Deborah Dornellas
Palavras-chave:
Mulheres negras, Trabalho, ResistênciasResumo
O presente artigo tem por objetivo analisar três figurações femininas negras da literatura brasileira contemporânea, no âmbito da representação das relações de trabalho. Como forma de expressão artística, a literatura desempenha nos materiais aqui investigados um declarado papel crítico e denunciativo das desigualdades étnico-sociais estabelecidas nos corredores da história do Brasil. No intuito de correlacionar os elementos constitutivos dessas personagens, tomamos como ponto de partida o traço que, em alguma proporção, é comum a elas: a condição de subalternidade que lhes é imposta nas relações de trabalho. Do livro Vozes guardadas, de Elisa Lucinda, analisaremos o poema “A velha dor”; do livro Olhos d’água, de Conceição Evaristo, analisaremos o conto “Maria” e do romance Por cima do mar, de Deborah Dornellas, analisaremos a personagem Tia Maria. Evidentemente, conforme anuncia o título, o olhar aqui desenvolvido parte de uma perspectiva interseccional, em que os três marcadores sociais (classe, gênero e raça) estão profundamente relacionados. Além disso, essa leitura cruzada propõe ofertar uma aproximação entre poesia, conto e romance, três expressões artísticas de modalidades diferentes, mas que, em suas peculiaridades constitutivas, abordam similarmente a temática da subalternidade a que estão relegadas as mulheres negras nas relações de trabalho no Brasil.